O desenvolvedor que virou pai

Um homem criando software no computador e seu filho ao lado anotando algo no caderno.

Há uns meses, nascia meu filho

Como o título sugere, pratico o artesanato de software. Tornei-me pai de primeira viagem recentemente. Mesmo sendo relativamente planejado, a princípio pensei que minha vida precisaria regredir para acomodar as mudanças da parentalidade: cansaço extra, novos gastos, mil preocupações. Mas me surpreendi com o resultado.

De certa forma, tudo isso se concretizou. Tem sido o maior desafio da minha vida, exigindo sem folga o apogeu de todas as habilidades que acumulei em décadas. Cada dia, cada hora, demanda o mais perfeito e provocador trabalho em equipe com minha esposa. Aprendizado diário, muita pressão, cada deslize é bastante punitivo.

Mas houve uma grata surpresa: não regredi. Pensei que o peso da responsabilidade me desaceleraria. Mas na verdade me impulsionou de uma forma que eu jamais teria conseguido sozinho.

Tentarei explicar.

O que meu filho me ensinou

Mesmo difícil, tenho estado muito mais motivado, mais produtivo, mais responsável, disciplinado. A reserva de emergência multiplicou, os planejamentos a médio e longo prazo se tornaram mais ambiciosos. Menos procrastinação. Tempo e energia ficaram recursos escassos, mais valiosos, logo aplicados com mais inteligência.

Enxergo o mundo com mais foco. De tudo que já tive orgulho, hoje com prioridades revisadas sinto que ser pai ofuscou todas as realizações do passado e do futuro.

Tem sido uma inspiração única ver meu filho aprender. Há progressos óbvios, como balbuciar sílabas e engatinhar. Mas também há momentos mais sutis: presenciei, em silêncio, ele percebendo pela primeira vez que tinha braços. Ele os encarava com perplexidade e curiosidade. O quão mágico é descobrir a si mesmo? Dar-se conta, questionar-se. Cogito, ergo sum… je pense, donc je suis… penso, logo existo, como concluía Descartes nos Princípios da Filosofia.

Meses depois, ajudei-o com algo ainda mais desafiador: aprender a sentar. Foram dias e dias tentando. Ele caía, cogitava chorar, terminava apenas rindo. Pedia ajuda pra voltar à posição, caía de novo e resiliente repetia. Cronometrei sucesso por 1 segundo até cair, depois 10, depois 60 e hoje ele engatinha como uma locomotiva tentando alcançar as duas bichanas da casa.

Ver o esforço e dedicação dele aprendendo a existir me motivou a ter mais brio e também botar para frente coisas que há muito eu só tinha vontade ou postergava. Como virar trilíngue, jogar xadrez, empreender. A intenção é que meu filho seja liderado até sua vida adulta através do exemplo.

Então decidi construir

Chega de pieguice. Eis o subterfúgio para estar colocando isso no meu blog profissional. Não é só um discurso monólogo, houve execução concreta.

Ao descobrir que seria pai, dediquei-me a estudar o assunto. Li livros, frequentei aulas, fiz treinamentos, ouvi opiniões, indaguei experiências. A ideia era me tornar mais capacitado ao novo papel.

Quando já em posse do recém-nascido em questão (muito saudável, graças a Deus), fui percebendo padrões na prática cotidiana. Algumas ideias davam certo, outras eram mais bonitas no papel. Nas madrugadas, babá eletrônica à esquerda e laptop à direita, nos intervalos entre um despertar e outro, decidi compilar algumas práticas em um aplicativo móvel.

No momento em que escrevo isso, estou fazendo o lançamento público do app Babytin. Eu e minha esposa já viemos usando nos últimos meses, com bons resultados. Serve como um diário de bordo do bebê, com usabilidade simplista para quem geralmente só tem uma mão livre. Acompanho, em tempo real com minha esposa, os avisos sobre se o bebê pode estar estressado por motivos de sono, alimentação, lembrete de remédios, arroto… enfim, ordem ao bombardeio de informações que pais e mães precisam lidar.

O aplicativo me ajuda, portanto, a agir com dados concretos. Me faz capaz de ouvir o que meu filho tenta dizer com suas duas ou três sílabas.

Afinal, pra que(m) escrevo isso?

Este post não tem o objetivo final de auto-promoção piegas (embora eu vá usar para isso às vezes, não negarei). É uma pausa para reflexão de minhas motivações, um comprometimento público, um marco, talvez um desabafo.

Na Metafísica dos Costumes, há uma frase de Kant:

O conceito da liberdade é a chave da explicação da autonomia da vontade.

O que no meu caso significa que a responsabilidade de ser pai está extraindo minha melhor versão. Era a chave que faltava. Com mais frequência, chefio quando o curto prazo deve ser sacrificado em prol do longo prazo, menos prazeres momentâneos me legislam. Existo para criar um mundo melhor ao meu filho.

Entendo que não será suficiente. Cometo e cometerei erros, serei motivo da terapia dele. Faz parte, sou imperfeito. E assim como meus pais, estou operando com as informações e possibilidades que tenho. Só espero que na vindoura geração, ele seja um pouco melhor do que eu, não igual. Que seja gentil e continue curioso, esforçado e risonho como é hoje.

E chegando ao fim desta página aberta de minha vida… caso esteja lendo isso, dedico com saudosas lembranças estas memórias felizes a você, meu filho. Eu a mamãe te amamos demais! 😉

Deixe um comentário